segunda-feira, 11 de março de 2013

INACABADO E INCOMPREENDIDO


Acordei hoje com muita vontade de fazer no banheiro do apartamento aquela gravura em negativo bem como está no mural do meu t.c.c. da faculdade de Artes Visuais, passo final para concluir meus estudos.




Voltei a morar com meu pai e estou indignado por ver que o apartamento continua sem realizar os desejos que minha mãe tinha em vida de torná-lo tão bonito quanto as moradas que ela fazia faxina.


Como um artista visual que aprendi a ser fui pesquisar um tema, algo que eu pudesse me apropriar em forma de gravura por estêncil. Me recordei das pesquisas que fiz sobre Cândido Portinari e seus azuleijos em Brasília. Escolhi o desenho dessas conchas para fazer parte da paginação.


Esses foram os materiais de minha revolução:

Estêncil da concha de Portinari, papéis recortados nas medidas 20 x 20 cm (reciclados), luvas, cola de serigrafia, Tintas Spray Preta e Branca.

Poderia usar mais outros materiais, mas eu queria fazer algo rápido e inacabado, para provocar a vontade de revestir o banheiro bem como minha mãe não viu ainda viva.

Essa seria a parede que me serviria como suporte:

Mas optei por começar pelo box, pois em pouco tempo alguém iria querer tomar banho e a parede úmida iria atrapalhar todo o processo prático.

Vendo essa parede pela foto parece que estou exagerando em falar de "indignação" ou mesmo "revolta", além do fato de que não existe nada melhor que ver com os próprios olhos algo que alguns dispositivos fotográficos podem falhar em exibir.

Assim o dia foi passando e eu me inspirando ainda mais ao me lembrar da exposição de grafite no Museu Brasileiro da Escultura (MuBE) realizado em Fevereiro de 2013.



Para me acalmar e me ajudar ao mesmo tempo, a Angélica que sempre quer participar das minhas produções. Assim invertemos as funções: Ela passando a cola serigráfica nas bordas do papel com auxílio de um pincel largo (e deixando sobre a mesa pré-forrada de jornal não somente para evitar fazer sujeira, mas também), e eu fotografando essa cena. Só para isso...rsss



Enquanto isso eu fui me equilibrando em uma cadeira, fazendo algo que devia ser sobre uma escada mas o pequeno espaço e a vontade de ser tão rápido quanto os grafiteiros para evitar transtornos. Eles atentos contra policiais e eu contra meu pai, esperando que ele veja a obra concluída. Assim ele se sentiria incomodado o suficiente para deixar esse apartamento melhor habitável.

Pensava que 2 horas de dedicação seriam o suficiente para isso, mas quando eu estava nessa etapa, que como no mural da faculdade, colei os papéis fazendo a paginação e deixando os vãos entre eles para pintar com spray branco, meu pai havia chegado. Me senti frustrado por nem ter começado nada.

Achava bem melhor ter que falar nas ruas sobre o artigo 5º IX , 220º e §2º da constituição federal.



Mas logo comecei a ser importunado pelo dono da casa, que deu a sugestão para que eu utilizasse os azulejos cortados e mal estocados do lado de fora no apartamento, que já foi  habitado por ratos incomodando a vizinhança. Será que ele percebeu que me formei em Artes Visuais? Quem mal tenho espaço para minhas pinturas e teria que pensar em usar equipamento específico de azulejistas?



Ao terminar de pintar uma área, eu destacava os papéis para reposicioná-los, dando continuidade a esse processo "em negativo", que nada mais é do que pintar do lado externo. Bem como faziam os homens das cavernas cuspindo tinta em suas mãos espalmadas sobre as paredes.



Daí eu percebi que o chão começou a grudar sob os pés, uma nuvem branca que sujava tudo, até finalmente o cheiro doce exalado de Spray deu espaço para novos comentários vindas de uma pessoa que ante me inspirava por fazer tantas coisas em casa, ser um cara que se importava mais com a família do que com o trabalho.




Comecei a desanimar com essa produção, por melhor que fossem minhas intensões de fazê-lo acordar para o que realmente importa na vida, tornando a casa um templo, a morada da paz do fim de cada dia.

Tudo que ele queria fazer não era dar conselhos de um expert em pinturas residenciais, mas sim mostrar superioridade, menosprezando minha iniciativa e formação.

Preferi ficar quieto até não aguentar mais, até o momento em que ele questionou o motivo de ter feito a concha em um papel ao invés de usar acetato. Com tanta coisa dando errado acabei falando em alto e bom som todo o processo que descrevo pra vocês.





















Assim ficou a parede. Do jeito que eu queria, mas de forma bem reduzida, se restringindo ao espaço que justamente ficamos de costas ao tomar banho, pois fui o primeiro a fazer isso assim que terminei e guardei tudo. Mas deixo aqui o registro de minha iniciativa, bem como visualizo o trecho da música "o que é bonito?" de Lenine: Eu Gosto é do inacabado / O imperfeito, o estragado...
Me referindo ao que nos estimula a sermos melhores sempre, como qualquer ser humano quer! ! !



Arte: Portinari no banheiro
Autor: Lee
Fotos: Lee / Angélica Santos

Um comentário:

Ludmila disse...

Eu queria fazer pipi no seu banheiro so pra ver as conchinhas! esse post tá lindo, já li umas tres vezes!

MEUS TRABALHOS ANTIGOS

Logo abaixo, tenho algumas artes que venho fazendo enquanto inspirado.

Danger ! ! !

Danger ! ! !
Neste desenho criado por Guthem(neu irmão) e colorido por mim (Lee), desenvolvemos e aprimoramos nossas técnicas para oferecer o que há de melhor que pudermos fazer.Logo, desenhos como esse, que não tem história são nossas cobaias para erros e acertos e talves até o início de uma história...só o tempo dirá.

Guardiães da 4ª Dimensão

Guardiães da 4ª Dimensão
Esse desenho e o “Pawer Wave´s Terry Bogard” estavam no evento Arte no Lápis - União dos Desenhistas da Baixada Santista 2007, aconteceu no dia 29/07, das 9h as 17h, na Gibiteca Posto 5, que fica na Conselheiro Nébias, Canal 3 (Em frente à praça de conveniências).

Power Wave´s Terry Bogard

Power Wave´s Terry Bogard
Por ser muito fã de Terry Bogard, fiz esse desenho para que todos os que são iguais a mim se identifiquem e não pensem que são loucos por ter um personagem de Anime como ídolo.

Mascotes para quiosque de praia

Mascotes para quiosque de praia
Essa foi uma de minhas grandes feicidades, a honra de fazer um logotipo com os mascotes sapos cartum que tivessem um traço caipira.Ficou um barato, ou seja, coaaaaachh!!!